#ArteviewNaPoltrona: Review do filme Bailarina (2025)

Em Bailarina (Ballerina), spin-off do universo John Wick, Ana de Armas não interpreta apenas uma assassina. Ela encarna Eve, uma jovem moldada pela dor, que dança entre o luto e a vingança. Sua jornada é silenciosa, física, feroz — e em determinado momento, tudo isso explode em cena, literalmente, quando ela empunha um lança-chamas.

Ali, o fogo não é só uma arma. É metáfora.
É o passado sendo consumido.
É a culpa virando cinzas.
É a mulher que ela era sendo queimada para dar espaço à que ela precisa ser.

Essa não é uma vingança estilizada à toa — é pessoal, íntima, emocional. Ana de Armas entrega uma performance que vai além da ação coreografada: é uma entrega física e emocional que chega a ser dolorosa de assistir. Ela mesma contou que chorou durante os ensaios da cena com o lança-chamas. Viu o primeiro dublê ser engolido pelas chamas (com toda a segurança técnica envolvida) e desmoronou.

“Chorei com o primeiro. Com os outros 105, fui me acostumando”, brincou em uma entrevista — mas o humor esconde o impacto. Porque quando a violência vira arte, ela mexe com o que está vivo.

Na cena em questão, há também jatos de água. E o contraste é visualmente belíssimo: fogo contra água, destruição contra contenção. O caos da personagem refletido nos elementos que a cercam. Como se a própria natureza estivesse lutando com ela.

É nesse embate que Ballerina encontra sua força. O filme não tem a complexidade narrativa de John Wick 4, mas traz algo que os anteriores muitas vezes evitavam: fragilidade. Eve não é uma máquina. Ela sente. Ela vacila. Ela queima.

E sim, Keanu Reeves está no filme, reprisa o papel de John Wick, o temido Baba Yaga, e surge como um fantasma do passado e um reflexo possível do futuro de Eve. A presença dele não rouba a cena — pelo contrário, amplia o peso dramático do universo que ela agora habita. Há também participações de Ian McShane (Winston) e Anjelica Huston (a Diretora do Ballet), fortalecendo os vínculos com o mundo já conhecido pelos fãs da franquia.

Ballerina é um balé de dor.
Uma dança com a morte.
Um solo de uma mulher que perdeu tudo — menos a vontade de sobreviver.