Por Léo Braga
Smiley ganhou o coração da comunidade LGBTQIAP+ quando estreou em formato de minissérie na Netflix com Carlos Cuevas no papel de Álex. Com a mínima abertura para a produção de produtos para a comunidade, a comédia romântica logo viralizou mais por meio de stories em redes sociais do que por divulgação da própria empresa. Mas a verdade é que antes de ser adaptada para o audiovisual, Smiley foi concebida como peça de teatro e, após estrondoso sucesso e montada em mais de 20 países, chegou às telas do mundo inteiro pela gigante produtora em dezembro de 2022.

Álex (Conrado Helt) e Bruno (Mau Alves) se conhecem por mero acaso do destino e, aparentemente, se detestam logo no primeiro encontro, quando na verdade, é claro, se apaixonam perdidamente um pelo outro, mas nenhum dá o braço a torcer para que possamos ter toda aquela expectativa de um final feliz à la Bridget Jones.
No dia em que estive no teatro para conferir a montagem, Conrado Helt foi substituído por Lurryan, que normalmente faz o personagem Pablo. E Felipe Assis Brasil dava vida ao terceiro personagem. É assim que seguiremos essa análise.

Assim que entramos na sala de espetáculo, podemos ver um cenário (Lurryan) intimista e bem pensado montado à nossa frente, onde vemos um bar(zinho) e um sofá. A plateia é uma arquibancada, em que todos podem ver muito bem todos os espaços em que a encenação ocupa.
Os sinais para início do espetáculo tocam como ligações encaminhadas para uma caixa postal e, com eles, já temos o início da contação da história do dramaturgo Guillem Clua, que começa justamente com Álex deixando um recado bastante desaforado para o (agora ex) namorado.
O monólogo inicial de Álex é uma introdutória em que percebemos várias piadas que foram inteligentemente vertidas para o português de modo que a proximidade da história seja instantânea para os gays de São Paulo – e vários a plateia com certeza se identificam muito ouvindo o rapaz. A tradução do texto (Jofrancis) é toda feita de forma inteligente e sagaz.
Não demora muito para conhecermos também, Bruno, a pessoa que recebe, por engano a mensagem e liga correndo para Álex para notificá-lo do engano.
A química de Mau e Lurryan é imediata em cena. Os dois jogam entre si e com a plateia como dois atores que estão absolutamente à vontade com seus personagens. Andam de um lado para o outro no palco com a precisão de quem confia no que está fazendo e Lurryan não titubeia na insegurança de ser o ator a fazer o papel que normalmente é feito por outro colega.
Além deles, junta-se à cena Felipe Assis Brasil interpretando Pablo (lembrando que Lurryan normalmente é quem o interpreta) com a mesma segurança do costume de fazê-lo que Álex estava sendo interpretado. Pablo vem para ser aquela pedra no sapato que pode destruir toda nossa esperança de ver o final feliz que queremos desde o começo…
Os três atores estão afiados, afinados e cabem perfeitamente em seus papeis. E por ser um espaço pequeno, a necessidade de que estejam microfonados é nenhuma. Mesmo quando sussurram, é perfeitamente possível entendê-los de qualquer canto da plateia, que às vezes ajuda na encenação com gostosas quebras da quarta parede (não se preocupe, ninguém é levado pro palco).

O texto é cheio de referências da cultura gay e das tecnologias utilizadas nos smartphones, como WhatsApp e aplicativos de pegação. E o mais legal é que não é necessário utilizar artifícios como um telão e projetor para demonstrar as telas dos celulares. Tudo demonstrado de maneira cênica, de forma inteligente e engraçada, nos trazendo o teatro mais original para nossos olhos.
Smiley consegue, mesmo sem patrocínio e Leis de incentivo, ser Arte de qualidade. Mas temos que pensar que, se é difícil estar em cartaz com patrocinador, sem é ainda mais difícil manter uma peça. E isso só nos mostra a vontade dessa produção de contar essa história com qualidade para o público. Por isso, vá ao teatro e aproveite os prazeres de ver boa Arte. Smiley te dará este prazer!
SERVIÇO
Até dia 29 de novembro
Teatro Cia da Revista – Alameda Nothmann, 1135
Sexta e sábado às 21h e Domingo às 20h
Ingressos: Sympla