#ArteviewNaPlateia – Review de Duas irmãs e um casamento

O dramaturgo inglês Peter Quilter já não é uma figura desconhecida para o público de teatro por aqui. Temos visto algumas das suas peças sendo montadas ao longo das últimas duas décadas. Inglês e já estabelecido no West End, Quilter escreveu Gloriosa, peça que esteve em cartaz em São Paulo com Marília Pêra,

Judy – o fim do arco-íris, que esteve no Rio de Janeiro com Claudia Netto no papel título e Duetos, peça que fez algumas temporadas recentemente com Patricya Travassos no elenco (além de Marcelo Farias e/ou Eduardo Moscovis). Judy, inclusive, rendeu ao autor algumas polêmicas com a Liza Minnelli, filha da atriz homenageada no texto, além de um filme (não muito bom), mas que rendeu um Oscar de atuação a Renée Zellweger.

Com a apresentação feita, podemos entender que a peça que falarei agora não  é de alguém que simplesmente apareceu do nada, mas de um autor com uma carreira já estabelecida e que, se algo seu é montado pelos nossos palcos, podemos assistir que sabemos que a chance de ser algo bom é grande.

DUAS IRMÃS E UM CASAMENTO foi anunciada. No elenco, Débora Olivieri, a vilã que marcou minha infância (e de tantas crianças dos anos 90) e Maitê Proença, a dona Beija em pessoa. Já tinha então mais nomes do que o suficiente para chamar a minha atenção e lá fui eu.

Na peça, duas irmãs nada próximas e bastante diferentes entre si, se encontram para os preparativos do casamento da filha de Catarina (Maitê Proença). Ao longo do texto, a relação das duas vai de baixos a altos e baixos de novo, como numa montanha-russa em alta velocidade. Enquanto Rosa (Débora Olivieri) é uma mulher altamente independente e empoderada, Rosa vive a agonia da separação de mais um casamento e, juntas, vão relembrando do passado, juventude, erros e acertos; falando sobre seus ciúmes e invejas. É praticamente uma sessão de terapia em família que nos garante boas risadas com humor inteligente e atuações sagazes.

Débora Olivieri nos entrega risadas do começo ao fim do espetáculo ao dar vida à Rosa, que parece recém saída de um festival à la Woodstock e Maitê Proença dá um ar presunçoso à Catarina que nos faz desgostar de bate pronto da personagem, mas que vai se desconstruindo até que criemos uma simpatia quase que fraterna. Se Quilter acerta na inteligência do texto, as atrizes acertam com precisão no tom das personagens.

Rodrigo Penna, que assina a trilha sonora do espetáculo, rega a todo momento nossos ouvidos com uma escolha impecável com algumas músicas de Edith Piaf, enquanto Marília Carneiro entrega um figurino sóbrio que conversa muito bem com o texto e com as personagens.

Mas o maior acerto técnico é o cenário de Rostand Albuquerque, que no começo da peça parece algo muito simples, mas que, na verdade, é um cenário muito vivo e que ajuda muito na contação da história.

Ernesto Piccolo costura toda a encenação em uma direção bastante coesa e bem-sucedida, mostrando não só a comédia sem propósitos, mas como os conflitos das relações familiares podem nos fazer rir por nos reconhecermos dentro dessas situações.

Duas irmãs e um casamento sabe equilibrar a comédia e as tensões emocionais.

SERVIÇO

Até 20/03/2025
De terça a quinta às 20h
Duração: 70 min

TEATRO FAAP
R. Alagoas, 903 – Higienópolis, São Paulo

Ingressos: https://teatrofaap.showare.com.br/?sw_sc=internet